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Evidência para a prescrição da udhiyah, e se ela é obrigatória ou recomendada

Pergunta: 256227

Li a resposta no seu site que diz que a udhiyah é sunnah, mas não existe prova significativa ali que apoie esta opinião. Por gentileza, poderia mostrar alguma evidência de que a udhiyah é sunnah e não é obrigatória? E quanto ao hadith “Aquele que pode pagar, mas não oferece sacrifício, que não se aproxime do nosso local de oração.” [Ibn Maajah, hadith nº 3123]?

Resumo da Resposta

Conclusão: existe uma diferença considerável de opinião entre os sábios, mas a opinião de que a udhiyah é recomendada é a que parece mais provável de estar correta, em nossa opinião. Para aqueles que podem custeá-la e querem ser prudentes e não deixar de oferecê-la, isto está do lado mais seguro e mais certo de se fazer, como citado acima pelo shaikh Ibn ‘Uthaimin (que Allah tenha misericórdia dele). Se alguém desejar saber mais, consulte: Ahkaam al-Udhiyah wa’dh-Dhakaah do shaikh Ibn ‘Uthaimin, e al-Mufassal fi Ahkaam al-Udhiyah de Husaam ad-Din ‘Affaanah,  onde ele aborda o assunto de uma maneira bem objetiva. E Allah sabe melhor.

Texto da resposta

Louvado seja Deus, e paz e bênçãos estejam sobre o Mensageiro de Deus e sua família.

Em primeiro lugar:

Com relação a este assunto há uma diferença bem conhecida de opinião entre os sábios (que Allah tenha misericórdia deles). A maioria deles é da opinião de que a udhiyah é sunnah, e não é obrigatória.

Ibn Qudaamah (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

A maioria dos sábios é da opinião de que a udhiyah é uma sunnah confirmada e não obrigatória.

Isto foi narrado de Abu Bakr, ‘Umar, Bilaal e Abu Mas’ud al-Badri (que Allah esteja satisfeito com eles). Também era a opinião de Suwayd ibn Ghafalah, Sa’id ibn al-Musayyab, ‘Alqamah, al-Aswad, ‘Ata’, ash-Shaafa’i, Ishaaq, Abu Thawr e ibn al-Mudhir, Rabi’ah, Maalik, ath-Thawri, al-Awzaa’i, al-Layth, e Abu Hanifa, que disse: É obrigatório, por causa do relato narrado por Abu Hurairah, de acordo com o qual o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Aquele que pode pagar, mas não oferece sacrifício, que não se aproxime do nosso local de oração.” E foi narrado de Mikhnaf ibn Sulaym que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Ó povo, cada casa, todo ano, deve oferecer um sacrifício (udhiyah) e uma ‘atirah [sacrifício que era oferecido durante Rajab no período pré-islamico].

Também existe um relato narrado por ad- Daaraqutni, com seu isnaad de ibn ‘Abbaas, que o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Existem três coisas que para mim são obrigatórias, mas para vós são opcionais.” De acordo com outro relato, elas são: “Witr, o sacrifício (udhiyah) e as duas raka’at (sunnah) do Fajr.”

E o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Quem quiser oferecer a udhiyah, quando os dez primeiros dias de Dhu’l-Hijjah começarem, que não remova nada de seu cabelo ou pele.” Narrado por Muslim.  Oferecer udhiyah está conectado à vontade de fazê-lo, mas aquilo que é obrigatório não pode estar ligado à vontade de fazê-lo.

Fim de citação de al-Mughni (11/95).

Em segundo lugar:

Cada grupo de sábios citou várias coisas como evidências para sua opinião, mas a evidência não está livre de algumas restrições com relação aos seus isnaads, ou alguma disputa com relação às suas interpretações. Limitaremos nossa discussão ao mais significativo dos ahadith marfu’.

Com relação ao primeiro hadith citado por quem diz que ela é obrigatória:

É o hadith de Abu Hurairah, de acordo com o qual o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Aquele que pode pagar, mas não oferece sacrifício, que não se aproxime do nosso local de oração.” [Ibn Maajah, hadith nº3123]

Alguns dos sábios proeminentes de ahadith não aceitaram que é marfu’ (atribuído ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele)), e julgaram ser as palavras de Abu Huraira (que Allah esteja satisfeito com ele) e não as palavras do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele).

Al-Baihaqi disse em seu Sunan (9/260): Eu ouvi que Abu ‘Isa at-Tirmidhi disse: Com relação ao hadith narrado por Abu Huraira (que Allah esteja satisfeito com ele), este deve ser acertadamente atribuído a ele, mas é mawquf (ou seja, são as palavras do Sahaabi e não pode ser atribuído ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele)). Foi narrado por Ja’far ibn Rabi’ah e outros, de ‘Abd ar-Rahmaan al-A’raj, de Abu Huraira como um relato mawquf. Fim de citação.

Al-Haafiz Ibn Hajar disse: Foi narrado por Ibn Maajah e Ahmad, e seus homens são thiqaat (confiáveis), mas há uma diferença de opinião quanto a ser marfu’ ou mawquf. A opinião que é mawquf é mais provável de estar correta. Isto foi dito por at-Tahhaawi e outros. Além disso, não afirma claramente que (oferecer a udhiyah) é obrigatório. Fim da citação de Fath al-Baari (12/98).

A opinião de que é mawquf era considerada ser mais correta por Ibn ‘Abd al-Barr, ‘Abd al-Haqq em al-Ahkaam al-Wusta (4/127), al-Mundhiri em at-Targhib wa’t-Tarhib, Ibn ‘Abd al-Haadi em at-Tanqih (2/498). Consulte: Haashiyat Muhaqqiqi Sunan Ibn Maajah (4/303).

O segundo hadith é o de Abu Ramlah de Mikhnaf ibn Sulaym, em um relato marfu’: “Ó povo, cada casa, todo ano, deve oferecer um sacrifício (udhiyah) e uma ‘atirah.” Narrado por Abu Dawud (2788), at-Tirmidhi (1596), Ibn Maajah (3125).

A ‘atirah era [sacrifício que era oferecido durante Rajab no período pré-islamico]. Também era conhecido com ar-Rajabiyyah.

Vários sábios classificaram este relato como da’if (fraco), porque Abu Ramlah, cujo nome era ‘Aamir, é desconhecido.

Al-Khattaabi disse: Este hadith é da’if e Abu Ramlah é desconhecido.

Fim de citação de Ma‘aalim as-Sunan (2/226).

Az-Zayla’i disse: ‘Abd al-Haqq disse: Seu isnaad é da’if, Ibn al-Qattaan disse: O problema com este hadith é o fato de que Abu Ramlah, cujo nome era ‘Aamir, é desconhecido; ele apenas é conhecido por este relato, que foi relatado dele por Ibn ‘Awn.

Fim de citação de Nasab ar-Raayah (4/112).

Com relação aos que dizem que é recomendada, citaram como evidência vários ahadith marfu’, o mais importante dos quais são os dois citados por Ibn Qudaamah (que Allah tenha misericórdia dele).

O primeiro hadith é o de Ibn ‘Abbaas, de acordo com o qual o Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Existem três coisas que para mim são obrigatórias, mas para vós são opcionais: Witr, o sacrifício (udhiyah) e a oração Duha.” Narrado por Ahmad (2050) e al-Baihaqi (2/467).

Este hadith foi classificado como da’if por vários e proeminentes sábios de ahadith antigos e comtemporâneos.

Ibn Hajar (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

A razão para ser classificado como da’if é que ele foi narrado por Abu Janaab al-Kalbi, de ‘Ikrimah, mas o primeiro é da’if e mudallis [ou seja, envolveu-se em tadlis, que é quando um narrador narra um hadith que ele não ouviu diretamente de seu shaikh, sem mencionar o nome da terceira pessoa de quem ele o ouviu, usando expressões que podem ou não dar a impressão que ele o ouviu diretamente], e ele narrou dizendo ‘an (de) [isto é mais fraco do que dizer “fulano e sicrano me disseram” e coisa parecida, especialmente por parte de quem é mudallis]. Os sábios proeminentes como Ahmad, al-Baihaqi, Ibn as-Salaah, Ibn al-Jawzi, an-Nawawi e outros o consideraram ser da’if.

Fim de citação de al- Talkhis al-Habir (2/45). Consulte também (2/258).

O segundo hadith é o de Umm Salamah, de acordo com o qual o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “Quando os dez (primeiros dias de Dhu’l-Hijjah) começarem, e o servo quiser oferecer um sacrifício (udhiyah), ele não deve remover nada de seu cabelo ou unhas.” Narrado por Muslim (1977). 

O Imam ash-Shaafa’i disse: Isto indica que a udhiyah não é obrigatória, porque o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “e [ele] quiser”, conectando-a, desta forma, ao seu desejo de fazê-la. Caso fosse obrigatória ele teria dito: que não remova nada de seu cabelo até que ofereça a udhiyah.

Fim de citação de al-Majmu’ (8/386).

Mas esta dedução está sujeita a novo debate, porque tornar uma coisa dependente do desejo de fazê-la não prova que não seja obrigatória.

O Shaikh Ibn ‘Uthaimin (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

Em minha opinião, torna-la dependente do desejo de fazê-la não exclui a sua obrigatoriedade, se evidência para esse efeito for comprovada. O Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse sobre os miqaats: “São para eles e para qualquer outra pessoa que não os seus cidadãos que lhes cheguem, querendo realizar Hajj e 'Umrah.” Isso não significa que o Hajj e 'Umrah não são obrigatórios, baseado em outra evidência. … O udhiyah não é obrigatório para quem não pode pagar, então ele não quer ou não pretende fazê-lo. Portanto, a este respeito, é válido dividir as pessoas em pessoas que querem ou pretendem fazê-lo e aquelas que não o fazem, com base em se podem ou não pagar.

Fim de citação de Ahkaam al-Udhiyah wa’dh-Dhakaah (p. 47).

Conclusão: existem algumas reservas sobre os ahadith que dizem que a udhiyah é obrigatória, embora alguns sábios os tenham classificado como hasan. O mesmo aplica-se àqueles que dizem que ela é recomendada; na verdade, em termos de seus isnaads, eles são mais fracos.

Consequentemente o Shaikh Ibn ‘Uthaimin (que Allah tenha misericórdia dele) disse, no final do seu volumoso ensaio Ahkaam al-Udhiyah wa’dh-Dhakaah: Estas são as opiniões dos sábios e a evidência que eles apresentaram. Nós as citamos de forma a enfatizar a posição e a importância da udhiyah no Islam. A evidência para cada opinião é igualmente poderosa, e a abordagem prudente estabelece que o servo não deve deixar de fazê-la, caso tenha condições financeiras, por causa do que do que ela engloba de veneração e lembrança de Allah, e cumprir com sua obrigação com segurança. Fim de citação.

Em terceiro lugar:

Existem duas coisas que apoiam a opinião de que a udhiyah não é obrigatória:

1.

O princípio de que as coisas não são obrigatórias a menos que seja provado o contrário: desde que não exista prova concreta de ser obrigatório, então o princípio básico é que não é obrigatório.

O shaikh Ibn Baaz disse: O parecer sobre a udhiyah é que é sunnah se o servo puder arcar com ela, mas não é obrigatória, porque o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) costumava imolar dois carneiros brancos salpicados de preto, e durante sua vida e após sua morte (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), os Sahaabah também costumavam fazê-lo, como os muçulmanos continuaram a fazer depois do tempo deles, e não há nenhum relato na evidência shar'i para sugerir que a udhiyah é obrigatória. A opinião de que é obrigatória é fraca.

Fim da citação de Majmu ‘Fataawa Ibn Baaz (18/36)

2.

Os relatos sahih que foram narrados dos sahaabah.

Foi narrado em relatos sahih de Abu Bakr, ‘Umar e outros que eles não ofereceram a udhiyah, porque eles não queriam que as pessoas achassem que ela era obrigatória.

Al-Baihaqi narrou em Ma‘rifat as-Sunan wa’l-Athaar (14/16, 18893) de Abu Sarihah que disse: Vivi durante o tempo de Abu Bakr e ‘Umar; eles eram meus vizinhos e eles não ofereceram udhiyah.

Al-Baihaqi disse, depois de citar isso: Foi narrado para nós no livro de as-Sunan, do hadith de Sufyan ibn Sa’id ath-Thawri, de seu pai, e o hadith de Mutarrif e Isma’il, de ash-Sha’bi, e em alguns dos seus relatos diz-se: Que era porque eles não queriam ser tomados como um exemplo [e achassem que a udhiyah era obrigatória].

Consulte também: as-Sunan al-Kubra (9/444).

An-Nawawi disse: Foi narrado por at-Tabaraani em al-Kabir e seus homens são homens de as-Sahih. Fim de citação de Majmu‘ az-Zawaa’id (4/18). Classificado com sahih por al-Albaani em al-Irwa’ (4/354).

Al-Baihaqi (9/445) narrou com o isnaad de Abu Mas’ud al-Ansaari (que ele disse): Eu deixei de oferecer a udhiyah ainda que tivesse condições financeiras, por medo de que meu vizinho viesse a pensar que ela é uma obrigação para mim. Classificado como sahih por al-Albaani em al-Irwa’.

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