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Resposta àqueles que consideram alguns assuntos inovados como bons, tal como a celebração do Aniversário do Profeta (Mawlid)

Pergunta: 128530

Espero que possam considerar o que segue, que se apresenta como uma discussão entre aqueles que dizem que celebrar o aniversário do Profeta é uma inovação (bid’ah) e os que dizem que isso não é inovação. Aqueles que dizem que isso é uma inovação citam como evidência o fato de que isto não era feito na época do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) ou no tempo dos Sahaabah ou de nenhum dos Taabi’in. O outro lado responde dizendo: Se alguém te disser que tudo que fazemos deve ter sido feito na época do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) ou no tempo dos Sahaabah ou dos Taabi’in, temos, por exemplo, algo chamado ‘ilm ar-rijaal ou al-jarh wa’t-ta’dil (ou seja, o estudo dos narradores de hadith e a avaliação de suas habilidades em transmitir confiavelmente) e assim por diante e ninguém se opõe a isso porque a base para toda objeção para qualquer inovação ser válida é que ela deve ir contra algum princípio Islâmico. Mas, quanto à celebrar o Mawlid (o aniversário do Profeta), a qual princípio isso vai contra? E existem muitos argumentos relativos a este assunto. Eles também citam como evidência o fato de que Ibn Kathir (que Allah tenha misericórdia dele) aprovou a celebração do aniversário do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Qual o parecer correto com relação a este assunto, com evidências de apoio?

Texto da resposta

Louvado seja Deus, e paz e bênçãos estejam sobre o Mensageiro de Deus e sua família.

Em primeiro lugar:

Convém notar, antes de tudo, que os sábios diferiram com relação à data exata do nascimento do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e existem várias opiniões. Ibn ‘Abd al-Barr (que Allah tenha misericórdia dele) acha que ele (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) nasceu no segundo dia de Rabi’al-Awwal; Ibn Hazm (que Allah tenha misericórdia dele) acha que é mais provável que ele tenha nascido no oitavo. Também foi dito que ele nasceu no décimo, como era a opinião de Abu Já’far al-Baaqir. E foi dito que que ele nasceu no décimo segundo, como era a opinião de Ibn Ishaaq.Também foi dito que ele nasceu no mês de Ramadan, como foi narrado por Ibn ‘Abd al-Barr, a partir de az-Zubair ibn Bakkaar.

Consulte: as-Sirah an-Nabawiyah de Ibn Kathir, p. 199,200.

Esta diferença de opinião entre os sábios é suficiente para que entendamos que aqueles que amavam o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) dentre as primeiras gerações desta ummah, não estavam certos quanto à data do seu nascimento, muito menos celebrá-lo. Vários séculos passaram durante os quais os Muçulmanos não celebraram o seu aniversário, até que isso foi introduzido pelos Fatímidas.

O Shaikh ‘Ali al-Mahfuz (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

Os primeiros a introduzirem (a celebração do Mawlid) no Cairo foram os Califas Fatímidas, no quarto século AH. Eles introduziram a celebração de seis aniversários: o aniversário do Profeta, o aniversário do Imam ‘Ali (que Allah esteja satisfeito com ele), o aniversário de Faatimah az-Zahra’ (que Allah esteja satisfeito com ela), os aniversários de al-Hasan e al-Husein (que Allah esteja satisfeito com eles) e o aniversário do califa atual. Estas celebrações continuaram a ser observadas até serem abolidas por al-Afdal, o comandante do exército. Depois elas foram restauradas durante o califado de al-Aamir bi-Ahkaam Allah, em 524 AH, depois que as pessoas tinham quase se esquecido deles. O primeiro a introduzir a celebração do aniversário do Profeta na cidade de Arbil foi al-Malik al-Muzaffar Abu Sa‘id, no sétimo século. E as pessoas começaram a ir muito longe na celebração do aniversário do Profeta e introduziram tudo que eles mesmos desejavam e tudo suscitado pelos demônios dentre os humanos e os jinn. Fim da citação.

Al-Ibdaa‘ fi Madaar al-Ibtidaa‘, p. 251.

Em segundo lugar:

Com relação ao que é mencionado na pergunta sobre o que é dito por aqueles que celebram o aniversário do profeta: se alguém lhe disser que tudo que fazemos deve ter sido feito na época do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) ou no tempo dos Sahaabah (companheiros) ou dos Taabi’in (seguidores, geração após os companheiros), isto indica que eles não têm conhecimento do que se quer dizer por inovação (bid’ah) e o que o Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) nos alertou contra em muitos ahadith. A inovação da qual fomos alertados contra é a que é feita como ato de adoração para aproximar o indivíduo de Allah, Exaltado seja, (isso não foi feito pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) ou prescrito no Islam). Esta é a diretriz relativa à definição de inovação.

Não é permitido buscar se aproximar de Allah fazendo um ato de adoração que não nos foi legislado pelo Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Isto é o que entendemos da proibição do Profeta sobre inovação. Inovação ou bid’ah significa buscar aproximar-se de Allah, Exaltado seja, por meios daquilo que Ele não legislou. Logo, Hudhaifah (que Allah esteja satisfeito com ele) disse: “Qualquer ato de adoração que não foi feito pelos Companheiros do Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele), não visam, desse modo, adorar Allah.”

Com relação a tais assuntos, o Imam Maalik (que Allah tenha misericórdia dele) disse: “Aquilo que não fazia parte da religião naquele tempo, não pode fazer parte da religião hoje”. Em outras palavras, aquilo que não fazia parte da religião na época do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e ele não buscou aproximar-se de Allah deste modo, não pode ser parte da religião, posteriormente.

Além do mais, este exemplo que é mencionado pelo questionador, que é a ciência do al-jarh wa’t-ta‘dil (avaliação dos narradores de hadith) e seu argumento de que isso é uma inovação que não é censurável, é uma opinião mantida por aqueles que dividem a inovação em boa e má; depois eles vão além disso e dividem-nas em cinco classificações de pareceres (obrigatória (waajib), recomendada (mustahabb), permissível (mubaah), proibida (haraam) e detestável (makruh). Esta classificação foi mencionada por al-‘Izz ibn ‘Abd as-Salaam (que Allah tenha misericórdia dele); ele foi seguido nisso por seu estudante al-Qarraafi. Ash-Shaatibi respondeu à aprovação de al-Qarraafi desta classificação declarando:

Esta classificação é algo que foi inventado e não há evidência para isso na shari’ah. Ao invés disso, ela é autocontraditória, porque parte da definição de inovação é que não há evidência para ela na shari’ah, quer seja em textos da shari’ah ou nos princípios básicos. Se houvesse alguma coisa na shari’ah que indicasse que algo é obrigatório, recomendado ou permissível, então, nesse caso, isso não seria inovação e a ação seria incluída sob o conceito geral das ações que são ordenadas ou são opcionais. Assim, referir-se a essas coisas como bid’ah e depois afirmar que as provas podem indicar se são obrigatórias ou recomendadas ou permissíveis, significa que a pessoa está se contradizendo.

Com relação a descrever algumas inovações como detestáveis (makruh) e proibidas (haraam), isto está correto, com base em que elas são inovações e não por nenhuma outra razão. Se existe evidência para indicar que algo não é permitido ou é detestável, isso não prova que seja uma inovação, porque existe a possibilidade que isso possa ser um pecado, tal como assassinato, roubo, consumo de álcool e assim por diante. Não há nenhuma inovação em que se possa imaginar que esta classificação se aplique de maneira alguma, exceto no caso do que é detestável e proibido, de acordo com este argumento.

O que foi narrado por al-Qarraafi de seus companheiros sobre o consenso na denúncia de inovações é correto, mas sua classificação não é correta. É muito estranho que ele tenha narrado que havia consenso na época em que ele estava produzindo um contra-argumento sobre esta questão, o que implicaria que não havia consenso. É como se ele estivesse apenas seguindo seu shaikh – isto é, Ibn 'Abd as-Salaam – em relação a esta classificação, sem examiná-la.

Depois ele mencionou a razão que al-‘Izz ibn ‘Abd as-Salaam (que Allah tenha misericórdia dele) deu para esta classificação e que ele chamou o conceito de al-masaalih al-mursalah (consideração de interesse público) uma inovação, então ele disse:

Quanto a al-Qarraafi, ele não tem desculpa por transmitir essa classificação de uma outra maneira além da que o seu Shaikh pretendia e outra além do que a que o povo pretendia, porque ele diferia de todos os demais com relação a esta classificação, de modo que ele foi contra o consenso. Fim de citação.

Al-I‘tisaam, p. 152, 153. Nós te aconselhamos a consultar o livro, porque o autor respondeu extensivamente e fez um bom trabalho, que Allah tenha misericórdia dele.

Al-‘Izz ibn ‘Abd as-Salaam (que Allah tenha misericórdia dele) citou um análogo de inovação obrigatória de acordo com sua classificação e disse:

Existem vários exemplos de inovações obrigatórias:

Estudar ‘ilm an-nahw (gramática Árabe) por meios da qual as palavras de Allah e Seu Mensageiro (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) podem ser entendidas. Isso é obrigatório porque aprender a shari’ah é obrigatório e ela não pode ser aprendida sem conhecimento disso (gramática Árabe). Aquilo sem o que um dever obrigatório não pode ser feito é também obrigatório.

Aprender o significado do vocabulário obscuro no Alcorão e Sunnah.

Desenvolver usul al-fiqh (princípios da jurisprudência islâmica).

Discutir al-jarh wa’t-ta‘dil (avaliação dos narradores de hadith) de forma a distinguir o confiável do desconfiável. O princípio básico da shari’ah (os ensinamentos do Islam) indica que preservá-la é uma obrigação comum com relação àquilo que é mais necessitado pelo indivíduo, e preservar a shari’ah não pode ser alcançado exceto pelos meios que mencionamos. Fim de citação.

Qawaa ‘id al-Ahkaam fi Masaalih al-Anaam, 2/173.

Ash-Shaatibi também o refutou dizendo:

Com relação ao que ‘Izz ad-Din disse: a resposta é igual ao que foi afirmado acima. Com relação aos exemplos daquilo que é obrigatório, com base que o que é obrigatório não pode ser alcançado a não ser por meio disso – como ele diz – não é essencial que isso deva ter sido feito pelos salaf (gerações anteriores) ou que deva haver um princípio específico na shari’ah, porque isso vem sob o título de al-masaalih al-mursalah (consideração de interesse público), não inovação. Fim de citação.

Al-I‘tisaam, p. 157, 158 

Para resumir esta resposta: estes campos de conhecimento não podem ser descritos como uma inovação shar’i (legislada) censurável, porque eles foram apoiados por textos e princípios gerais da shari’ah, que impõem a preservação da religião e da Sunnah, e transmissão confiável das ciências shar’i e textos da shari’ah (o Alcorão e a Sunnah).

Convém dizer que considerar estas ciências como uma inovação é no sentido linguístico, não no sentido shar’i. As inovações no sentido shar’i são censuráveis; quanto à inovação no sentido linguístico, alguma delas são louváveis e outras censuráveis.

Al-Haafiz Ibn Hajr al-‘Asqallaani (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

A inovação no sentido shar’i é censurável, ao contrário da inovação no senso linguístico. Qualquer coisa que seja recém introduzida sem precedente pode ser chamada de uma inovação, quer ela seja louvável ou censurável. Fim de citação.

Fath al-Baari, 13/253 

Ele também disse:

Com relação às inovações (bida’, plural de bid’ah), esta palavra se refere a tudo para o que não existe precedente. Em termos linguísticos isso inclui ambos, os assuntos louváveis e os censuráveis, mas dentre os sábios do Islam isso geralmente se refere àquilo que é censurável. Se a palavra é aplicada a algo que é louvável, então isso deve ser entendido de acordo com o seu sentido linguístico. Fim de citação.

Fath al-Baari, 13/340 

Em seu comentário sobre o hadith nº 7277, em seu livro al-I‘tisaam bi’l-Kitaab wa’-Sunnah, Capítulo 2, do Sahih al-Bukhaari, o Shaikh ‘Abd ar-Rahman al-Barraak (que Allah o preserve) disse:

Esta classificação das inovações está correta do ponto de vista linguístico. Mas do ponto de vista shar’i, todas as inovações são desvio, como o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) disse: “O pior dos assuntos são aqueles que são recém introduzidos e toda inovação é um desvio.” À luz deste sentido geral, não é aceitável dizer que dentre as inovações existem aquelas que são obrigatórias ou recomendadas ou permissíveis. Ao contrário, as inovações na religião ou são proibidas ou detestáveis. Dentre aquelas que são detestáveis, mas podem ser descritas como uma inovação permitida, está escolher o aperto as mãos depois da oração das orações do Fajr e ‘Asr. Fim de citação.

O que deve ser compreendido e aderido é que devemos prestar atenção à disponibilidade de meios e ausência de impedimentos para fazer algo na época do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e seus nobres Companheiros. Os Companheiros do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) sabiam do seu aniversário e o seu amor por ele era grande; eles poderiam ter tirado o dia do seu aniversário como um festival a ser celebrado e não havia nada que os impedisse de fazê-lo. Mas, porque o Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e seus Companheiros não fizeram nada do gênero, sabe-se que isto não é prescrito; se fosse, eles teriam sido as primeiras pessoas a fazê-lo.

O Shaikh al-Islam Ibn Taimiyah (que Allah tenha misericórdia dele) disse:

Com relação ao que algumas pessoas introduziram, seja em imitação à celebração Cristã do nascimento de ‘Isa (Jesus – que a paz esteja sobre ele) ou pelo amor ao Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) e para demonstrar respeito por ele – que Allah os recompense por este amor e esforço, mas não por esta inovação – de tomar o aniversário do Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) como um festival, a despeito da diferença de opinião acadêmica com respeito à data do seu nascimento, isto é algo que as primeiras gerações não fizeram, a despeito do fato da mesma razão para fazê-lo (ou seja, o amor pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) estava presente e não havia nenhum impedimento para fazê-lo). Se isto fosse algo que era puramente bom ou majoritariamente bom, as primeiras gerações (que Allah esteja satisfeito com elas) teriam sido mais propensas a fazê-lo do que as outras, porque aquelas tinham um amor maior e um maior respeito pelo Mensageiro de Allah (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) do que nós e eles estavam mais ansiosos a praticar o bem. Ao invés disso, a melhor maneira de demonstrar amor e respeito por ele é seguindo-o e obedecendo-o, atendendo aos seus comandos, revivendo a sua Sunnah tanto interna quanto externamente, propagando a mensagem com a qual ele foi enviado e esforçando-se para fazer isso, no seu coração e por suas ações e palavras. Esta é a maneira das gerações anteriores, os Muhaajirin e Ansaar e aqueles que os seguiram na verdade. Fim de citação.

Iqtida’ as-Siraat, p. 294, 295 

Estas sábias palavras destacam o fato de que o amor pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele) deve ser expressado seguindo a sua Sunnah, ao ensiná-la e propagá-la entre as pessoas e ao defende-la. Esta é maneira dos Sahaabah (que Allah esteja satisfeito com eles).

Quanto às gerações posteriores, eles mesmos se enganaram e foram enganados por Satanás com estas celebrações. Eles acharam que fazendo isto estariam expressando o amor deles pelo Profeta (que a paz e as bênçãos de Allah estejam sobre ele). Quanto a reviver a sua Sunnah, segui-la, chamar as pessoas a ela, ensiná-la às pessoas e defende-la, eles estão longe disso.

Em terceiro lugar:

Com relação ao que esta pessoa atribuiu a Ibn Kathir (que Allah tenha misericórdia dele), dizendo que ele permitiu a celebração do aniversário do Profeta, deixe que ele nos conte onde Ibn Kathir (que Allah tenha misericórdia dele) disse isso, porque não encontramos nenhuma dessas palavras de Ibn Kathir (que Allah tenha misericórdia dele). Nós achamos que Ibn Kathir está acima de apoiar ou promover esta inovação.

E Allah sabe melhor.

A Fonte

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